Consciência Negra – A Música Como Resistência

Dr. Martin Luther King Jr. sonhava um mundo em que seus filhos seriam julgados pelo conteúdo do caráter e não pela cor da pele. Já Steve Biko daria a medida perfeita ao escrever sobre um mundo onde brancos devem perceber que são apenas humanos, não superiores, e onde os negros seriam levados a perceber que também são humanos, e não inferiores.

A música sempre foi porta-voz das lutas pelos séculos e expressão pelo desejo de todos serem vistos e sentidos como iguais.

Por isso, há 19 anos o Jazzmasters nascia com um propósito: tocar o melhor dessa força potente e mensageira da liberdade, a música.

Não criamos um programa para homenagear um dia, um ritmo específico, uma personalidade negra ou para simplesmente pleitearmos uma representação, o que nem seria o caso. Tudo o que procuramos expor diariamente em forma de música é a luta constante pela igualdade. Tocar nas feridas constantemente, regularmente. Não fazemos discursos. Criamos um espaço para que os artistas – aqueles que realmente sentem o que não poderemos sentir jamais –, soltem sua voz.

Falamos constantemente sobre a história do Jazz. Do Spiritual ao Gospel no final do século 19, onde pessoas escravizadas cantavam sobre suas dores e esperanças e mantinham através da fala e da música, a história apagada dos documentos. De lá, um longo e extenuante caminho foi trilhado para chegarmos ao Rap (Rhythm & Poetry) e ao Hip Hop que incorporam novamente suas raízes, criam e recriam beats e movimentos que nos encantam na música e mantém sua ancestralidade. Tantas dores pelo caminho expostas aqui, por exemplo, por Carolina de Jesus, Gil, Elza Soares, Liniker, Mano Brown ou Emicida; por Angela Davis, Nina Simone, James Brown, Malcom X, Marvin Gaye ou Bob Marley. São milhares de nomes para serem citados.

Pelo caminho tivemos apropriações culturais constantes, nas artes, vestimentas, na música. Elvis Presley, por exemplo, era visto como parte dessa apropriação. Um branco de Tupelo fazendo a música de negros. B.B. King o defendia dizendo “Ele só tinha sua própria interpretação da música que conheceu quando criança, o mesmo vale para todos”. Já Ray Charles e Quincy Jones sempre tiveram outra opinião a respeito de Presley: “Rei do quê?” perguntava Ray acusando-o de apropriação. Já Quincy o acusava de racista. Rufus Thomas era um moderador – “Muita gente diz que Elvis roubou nossa música, que roubou a música do homem negro. Mas o homem negro, o homem branco, não são donos da música. A música pertence ao universo.”

É pela música que nos expressamos.

Neste Dia da Consciência Negra que lembra o dia da morte de Zumbi, o líder do Quilombo de Palmares, em 1695, fazemos questão também de lembrar de um vídeo do rapper MC Rashid, gravado em 2015 e que continua tão poderoso como se fosse feito há 100 anos ou hoje, em 2023.

“A Cena” tem toques de Soul e Jazz detalhando conflitos, medos e preconceitos. A maravilhosa Izzy Gordon vem com a pergunta “O que fizemos aos senhores / Além de nascer com essa cor”.

A verdade deste dia, é que ainda há um enorme desafio à frente, onde a cor da pele parece criar um abismo invisível que deixa uma marca, uma dívida da sociedade com os negros, um débito que parece ser esquecido em cada esquina, em um José, um João, um George Floyd.

Temos a obrigação de manter essa consciência viva e alerta. A partir da informação, podemos confrontar ideias, atitudes e falas preconceituosas e racistas. Com diálogo e conhecimento, podemos construir um pensamento social que respeite todas as diferenças.

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