A temporada brasileira do musical Jersey Boys, em cartaz no 033 Rooftop, em São Paulo, chega ao fim neste domingo, dia 28, e, para Henrique Moretzsohn, a despedida é também a celebração de uma fase intensa e transformadora. O ator e cantor, que vem acumulado uma sólida carreira em musicais de grande porte, assumiu pela primeira vez um papel de protagonista: o lendário Frankie Valli, voz inconfundível dos Four Seasons.
Conquistando elogios do público e crítica, ele conta em exclusiva ao Jazzmasters como foi o processo, a exemplo de encontrar esse registro vocal tão característico, que exigiu dele um mergulho profundo. “Foi um processo imersivo. Escutei bastante o álbum original dos Four Seasons para absorver o conteúdo e a sonoridade da voz do Frankie de modo que soasse natural quando eu passasse a emular o timbre. Também ouvi a trilha do musical, porque a maioria das músicas estão em outro andamento”, conta. A dedicação foi tamanha que até momentos triviais da rotina serviram de laboratório: “Até mesmo conversando com meu gato e com meus cachorros eu experimentava timbres nesse processo”.
A disciplina, que ele já aplica em sua atuação como professor de canto, foi decisiva para dar consistência à performance. “Fiz um mapeamento, grifando na partitura o momento exato de fazer as trocas. Assim foi ficando cada vez mais fluido”, explica. E completa: “Enalteço, em relação à manutenção da consistência, a nossa equipe criativa e o suporte da nossa querida fonoaudióloga Adriana Bezerra, fundamental nos cuidados com a nossa saúde e resistência vocal diante de tanta demanda.”

Entre o crooner e o protagonista
Paralelamente à carreira no teatro musical, Henrique segue integrando o trio Amazing Tenors, projeto em que transita entre o clássico e o pop. Essa vivência, segundo ele, foi essencial para dar vida a Frankie. “No show Amazing Tenors eu sou um performer crooner, transitando entre os estilos clássico e pop. Essa velocidade na transição dos estilos enriqueceu minha técnica vocal e minha versatilidade. Essa convivência com diferentes estilos musicais me ajudou a interpretar as nuances de Frankie Valli.”
A experiência de turnês pelo Brasil também trouxe um olhar humano sobre o personagem. “A própria logística das viagens, de estar longe da família nos finais de semana, enfim, a dinâmica de uma vida artística em turnê, me ajudou no processo de compreensão empática das questões abordadas na peça em relação à vida pessoal do Frankie.”
A dicotomia do protagonismo
Ao olhar para a temporada que se encerra, Henrique define esse momento como um divisor de águas. “Essa experiência tem sido uma fase marcante na minha trajetória artística. Ela expandiu ainda mais a minha consciência sobre o que tenho chamado de ‘dicotomia do protagonismo’. Percebi ainda mais claramente que, embora o protagonismo seja um espaço de destaque que evidencia uma persona, ele também é, sobretudo, um espaço de compartilhamento, de troca.”
A reflexão é fruto da convivência nos palcos com colegas e equipe. “Tivemos a sorte de contar com um elenco alinhado, generoso, disposto e extremamente profissional, assim como uma equipe criativa dedicada. Essa sinergia tornou o processo, embora desafiador pelo volume de material, a demanda intensa e o pouco tempo de ensaios, extraordinariamente harmonioso e enriquecedor, tanto artisticamente quanto pessoalmente.”
Música como fio condutor
Seja nos palcos de concerto, nos projetos vocais ou nos grandes musicais, Henrique enxerga a música como elemento central da própria trajetória. “Embora eu tenha me formado primeiro como ator, percebo que a música se tornou um verdadeiro fio condutor da minha trajetória desde que ingressei nos palcos dos musicais. O que me move é justamente esse poder que a música tem de acessar dimensões sutis, de elevar vibrações e transmitir mensagens não só pelas palavras, mas também pelas melodias, pelos silêncios e pelas emoções que desperta.”

E depois do adeus?
Com a cortina prestes a se fechar para Jersey Boys, o ator prefere manter o futuro em aberto. “O futuro eu encaro como uma partitura em aberto: sigo onde a música da vida me conduz, e deixo que os bons ventos soprem as próximas notas. Tem música, tem teatro… e o resto: a surpresa, faz parte do show!”