Se você estivesse caminhando pelas ruas de Londres em 1991, talvez ouvisse no rádio ou em alguma loja aquela batida soul com a essência de Curtis Mayfield, mas com produção de pista: era Drizabone tocando ‘Real Love’, um groove refinado, sensual, feito sob medida pra embalar amores e remixes. Capitaneado por Vincent Garcia, o Drizabone nunca foi exatamente uma banda, mas um coletivo de estúdio, sempre com uma nova diva no vocal. E nada melhor do que aterrissar na Alemanha com os novíssimos Tilar, que chegam em trajes espaciais, mas com os pés firmes no melhor do funk, jazz e R&B. ‘Unite & Heal’ é mais do que um título: é uma declaração de intenções. A banda é liderada pelo multifacetado Joshua Milo que nos entrega uma faixa poderosa, solar e cheia de metais. A voz cristalina de Clara Lucas vem como uma brisa cósmica, convidando à dança e à união. Fechando este primeiro bloco vem o galês Rod Thomas ou Bright Light Bright Light, que se juntou ao duo nova-iorquino 808 BEACH para uma releitura deliciosa de ‘Too Funky’, hit de George Michael que agora ganha nova camada de glitter e respeito. “Too Funky” nunca soou tão orgulhosamente livre.

A sequência vem com uma daquelas faixas que não tocam só o ouvido – elas tocam a memória. ‘Long Time’, do duo britânico Searchlight com vocais de Manny, é exatamente isso: um soul eletrônico cheio de saudade, com uma levada noturna que lembra os momentos mais etéreos de Sade e Massive Attack. Falar de SAULT é mergulhar num dos projetos mais enigmáticos e brilhantes da música negra contemporânea. ‘R.L.’ Real Love, é um funk minimalista e intenso, parece improvisada, mas é cirúrgica com guitarras secas, vocal hipnótico de Cleo Sol. E fechando o primeiro set, um clássico moderno. Shaun Escoffery sempre foi uma voz forte na cena soul britânica, e ‘Space Rider’ é sua obra-prima: psicodelia com funk, groove com mística. A faixa tem cara de trilha sonora de um filme. Um hino neo-soul futurista.

O segundo set vem com releituras. Lewis Taylor traz para ‘You Make Me Feel’ não só seus arranjos intrincados e vocais perfeccionistas, mas também uma aura quase espiritual. A faixa mantém o espírito do original Sylvester, mas com uma camada de sensualidade sofisticada e psicodelia blue-eyed soul que só ele sabe fazer. A música a seguir vem com um groove redondo. A versão do D-Influence para o clássico de Michael Jackson é uma masterclass. E o puro R&B dos anos 90. Zhané sempre foi sinônimo de elegância urbana, e ‘Good Times’ do Chic é exatamente isso: vibe leve, batida descontraída, vocal derretendo com esse duo clássico.

Partindo para o final vem Ben Westbeech, mestre em cruzar fronteiras: do eletrônico ao soul, do house ao jazz. E com as Dames Brown e RAHH, ele cria uma faixa que é quase um ritual de celebração e quase terminando o programa Birdee faz boogie-house como poucos, e aqui, com Michelle Weeks (lendária voz do gospel-house dos 90), ele atinge um pico de euforia. ‘I Feel the Joy’ é exatamente o que o título promete: positividade, cheio de luz, com vocais poderosos e uma linha de baixo contagiante. Música feita para unir, levantar e iluminar. Por fim, um dos grandes momentos do acid-jazz europeu. Count Basic e Kelli Sae formam uma dupla explosiva, e em ‘Stomp’, releitura dos Brothers Johnson. Aqui eles entregam uma mistura de groove, atitude e luxo sonoro.
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Nossa edição 1256 apresenta Ben Westbeech, Rahh e o trio Dames Brown, aqui ao vivo, substituídas elegantemente por Obi Frank.
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