O programa desta semana é uma travessia deliciosa entre o passado e o presente do Soul — um roteiro que começa na elegância das batidas vintage, passa pela força criativa da nova cena neo-soul e desemboca no groove universal das pistas modernas. São doze faixas que comprovam: o soul não envelhece, apenas muda de roupa.

As três primeiras faixas traçam uma linha clara entre gerações. Polo Drums, baterista francês ligado a Portugal e ao Brasil, abre o programa com “Take Me Back” — um groove suave e cheio de balanço orgânico. Delegation, em “You and I”, traz o refinamento britânico de 1979, aquele R&B aveludado com melodia irresistível, marca registrada do produtor Ken Gold. E o Crown Heights Affair, com “Somebody Tell Me What To Do”, fecha esse primeiro bloco mostrando como o funk dos anos 80 soube se reinventar sem perder o charme — um equilíbrio raro entre emoção e pista de dança.

Da quarta a sexta música, o foco é a reinvenção contemporânea. NxWorries, a dupla de Anderson .Paak e Knxwledge, entrega “Everybody Gets Down” — soul moderno com toque retrô, groove quente e sensualidade controlada, daqueles que soam atuais e clássicos ao mesmo tempo. Os dinamarqueses do BASED seguem nessa linha, com um funk elegante que dialoga com Jamiroquai e Prince, mas com sotaque europeu. Já os neozelandeses do After’Ours, ao lado de Louis Baker, trazem o toque refinado do soul-jazz moderno, em “That Love”: música feita por quem respeita as raízes, mas grava com os ouvidos no futuro.

Entre as faixas 7 e 9, o soul vintage brilha em alto estilo. Melba Moore, lenda viva, ressurge com “Keepin’ My Lover Satisfied” em versão edit moderna — puro ouro dos anos 80, com vocais cheios de energia e classe. The Impressions, com “Love, Love, Love”, provam que o soul de Chicago sempre foi sinônimo de harmonia e espiritualidade. E Orlando Johnson & Trance, com “Somebody Save Me”, trazem a vibração italo-funk que marcou a fusão Europa–América nos anos 80: groove, sensualidade e elegância dançante.

E o último bloco é um show à parte. Michael Franks, sempre sofisticado, revisita “When Sly Calls” em remix elegante, mostrando como o cool jazz pode dançar. Mas o grande destaque é a nova faixa de Jordan Lee, “Blazing a Sun”, do álbum Fighter for Love. Um soul emocional e cinematográfico, que fala sobre autoconhecimento, amor e cura — Lee soa como uma fusão de Maxwell e Thundercat, mas com identidade própria e maturidade artística impressionante. O programa fecha em ritmo de celebração com Re-Tide, Steff Daxx e Lee Wilson, em “Casio”: nu-disco elegante, groove eletrônico e vocais com alma — prova de que o espírito do soul segue pulsando forte nas pistas contemporâneas.
Um programa que viaja no tempo e vários sotaques, conectando o passado glorioso do soul ao frescor das novas gerações que mantêm viva a chama da emoção e do groove.
Ainda não ouviu? Ouça o Jazzmasters aqui.
Em seu álbum de estreia ‘Fighter for Love’, o artista parisiense Jordan Lee narra as várias fases do amor e as influências artísticas que encontrou ao longo de seus muitos anos como músico. Uma das músicas em destaque do seu álbum está aqui.
Confira o vídeo: