O Jazzmasters desta edição é uma travessia vibrante pelas vibrações da música negra — do gospel-funk contemporâneo ao soul sensual dos anos 70, passando pela efervescência do nu-jazz e pela reinvenção de clássicos da Disco. É um programa que respira história, espiritualidade e pista de dança ao mesmo tempo: música feita para elevar, curar e celebrar, como adoramos fazer no Jazzmasters. E no centro dessa viagem, o aniversariante Jimi Tenor surgindo como um cometa excêntrico, iluminando tudo com sua mistura inclassificável de jazz, psicodelia, humor e groove.

A abertura com Cory Henry, Mothers Favorite Child e Chanson já coloca o coração no compasso certo: primeiro, a espiritualidade moderna de Henry, onde o Hammond B3 conversa com Deus em groove mid-tempo, depois o neo-soul quente e aveludado de ‘Too Much Redbone’, e finalmente a joia disco de 78, ‘Don’t Hold Back’, reavivada com mãos leves por Haverdi, trazendo os anos 70 com nitidez de agora. É um trio que conta uma mesma história: a alma do soul nunca envelhece, ela só muda de roupa — e, às vezes, ganha um “talento” técnico para brilhar na pista.

A sequência ganha vida com um protagonista que rouba a cena: Jimi Tenor, o finlandês impossível de classificar, celebrando seus 60 anos com o frescor de um artista que nunca pisou no freio. ‘Some Kind of Good Thing’ é exatamente isso: uma boa coisa que acontece quando jazz-swing, afrobeat, funk e uma pitada de espiritualidade cósmica entram no mesmo laboratório. Tenor tem essa magia: a música é séria, complexa, cheia de camadas, mas soa leve, divertida e luminosa — como se Sun Ra resolvesse flertar com um lounge futurista no meio da pista. Ao lado dele, Mister T. mantém a vibração alta com seu breakbeat festeiro cheio de metais sampleados, e FIJA com Takuya Kuroda fecha esse bloco com elegância japonesa, onde o trompete respira como uma segunda voz e transforma o R&B em som aveludado.

No trio seguinte, a tríade Barry White, Lisa Stansfield e Evelyn “Champagne” King forma um mini-capítulo sobre a eternidade do soul para as pistas. As versões retrabalhadas de Barry e Lisa ganham musculatura rítmica e clareza moderna, sem perder o romantismo e a classe que definem suas carreiras. E quando entra o remix 2025 de DJ Meme para ‘Love Come Down’, a Disco vira festa contemporânea: cordas brilhando, graves esculpidos, energia para incendiar qualquer pista do planeta. É a prova de que os clássicos, cuidados com amor, sempre encontram novos jeitos de pulsar e encontrar novas audiências.

Para fechar, o programa mergulha na dança e no espiritual. Joe Corti traz o house repetitivo e emocional, que cresce como uma onda e te joga num transe melódico. Kenny Bobien chega em seguida com sua assinatura: gospel house elevado ao estado de gratidão pura, piano uplifting, corais de igreja abrindo o céu e um falsete que parece agradecer em nome de todos nós. É música que limpa o ar, que encerra a viagem com esperança — como se dissesse que, depois de tanto groove, ainda há espaço para fé, luz e celebração.
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A diva britânica do Blue-Eyed Soul, Lisa Stansfield, dominou as paradas nos anos 90 com sua mistura de pop e soul. ‘The Real Thing’ (originalmente de 1997) é uma de suas faixas mais dançantes, já flertando com o House. E no vídeo você assiste ao original. No programa ouvirá o “Rework” que atualiza a faixa, possivelmente despindo-a de alguns elementos datados dos anos 90 e focando no groove do baixo e na performance vocal poderosa de Lisa.