Essa edição do Jazzmasters é uma travessia sonora que une raízes e futuro, com beats pulsantes, vozes com história e belos arranjos. Mas no centro desse palco, quem brilha é Natalie Williams, a joia rara que canta Donato com soul e transforma qualquer nota em poesia viva.
E para começar essa viagem, Kaytranada faz o que sabe como ninguém: beats sedutores que transformam o R&B com elegância minimalista. Charlotte Day Wilson entra suave e segura, como sempre. O produtor e multi-instrumentista JK convidou Betty Judd para nos dar uma pista requintada. Funk da era digital com cheiro de vinil antigo e nesta vibe, o Jazzmasters apresenta o produtor holandês Marra com Dana Williams. Um groove solar que dança entre o house e o soul com sutileza. Dana carrega ainda, a herança (filha do guitarrista David Williams, de Michael Jackson e Madonna) e carisma.
Chaos In The CBD, a dupla de produtores formada pelos irmãos Louis e Ben Helliker-Hales trazem um deep house com toques de jazz. A faixa embala como uma lembrança boa depois do pôr do sol. E a dupla abre bem para o trombonista Reginald Chapman que convidou a cantora Sam Reed para um jazz de big band com pegada urbana. E terminando o primeiro set, novamente falamos sobre a sutileza em pessoa, a cantora de Lagos – JazzZ. Que força na voz. Fácil ouvir e entender suas raízes profundas e espírito leve. Um jazz com sabor de liberdade.
E o nosso segundo set? Abrimos muito bem com Personal Life de Londres, a banda dos shows de Amy Winehouse com um Soul jazzístico feito à mão. Bateria de Nathan Allen, teclas de Xantoné Blacq e coração pulsando em cada nota. Donny Hathaway vem depois. Mestre sempre à frente de seu tempo, renasce com essa joia reeditada. Soul em estado puro — dor e esperança entrelaçadas. E agora, o momento do programa. Natalie Williams não apenas interpreta — ela transborda.
Com uma voz que mistura técnica, emoção e leveza, ela reinventa “Bananeira” de Donato como se fosse sua. Presença cativa no Ronnie Scott’s, mentora de talentos como Sam Smith, diva low profile e essencial da soul music britânica, Natalie é daquelas que cantam com o corpo, o coração e uma elegância que não precisa de adorno. Um dos grandes nomes do jazz contemporâneo – e um luxo tê-la por aqui, até porque ela esteve na nossa festa de 10 anos do Jazzmasters, em São Paulo, em 2014 no Bourbon Street junto com Incognito.
E para iniciarmos o desembarque, as irmãs AAries entregam R&B com alma gospel e modernidade de sobra. Essa faixa é carinho nos ouvidos. Say She She logo na sequência vem com Funk psicodélico com discurso político disfarçado de batida dançante. A trilha sonora da rebelião com gloss e glitter. É o feminismo encontrando o groove. E para terminar, ninguém menos que Brian Jackson. O eterno parceiro compositor, arranjador e líder da Midnight Band de Gil Scott-Heron. Ele ressurge cercado por mestres e nos lembra que a música ainda pode nos salvar. São minutos de beleza, consciência e soul em seu estado mais nobre.
Ainda não ouviu? Ouça o Jazzmasters aqui.
Em curta carreira, Donny Hathaway gravou quatro álbuns. Seu primeiro single veio em 69 com “The Ghetto, Part I”. Gravou com Roberta Flack a música “The Closer I Get to You” e as ótimas “You Are My Heaven” e “Back Together Again”. Confira o vídeo que apresenta a música de destaque em nosso Jazzmasters:
