A edição do Jazzmasters que está no ar pelo Brasil nesta semana é daqueles programas que parecem uma sessão ao vivo, dividida em 12 atos com uma mistura de elegância contemporânea, groove vintage e pura emoção musical, sem IA no caminho. É um passeio por décadas de soul, R&B e funk reinterpretados com sensibilidade moderna. Cada faixa parece dialogar com a anterior, num fio condutor que fala de amor, desejo, nostalgia e renascimento criativo. Um programa que começa leve, ganha corpo e termina transcendendo o próprio conceito de pista de dança com um mago das produções.

Nas três primeiras faixas, o clima é de soul leve e delicioso. Alex Isley, herdeira dos lendários Isley Brothers, abre o programa com “Too Bad I Forget”, em um remix que realça sua voz aveludada. Goodman e Sarah Lois seguem com “Something I Can’t Do”, um deep house que poderia estar tocando num beach club, o tipo de faixa que relaxa e convida. Já Pherris – “Are You_”, ao samplear Aaliyah e Timbaland, acende aquela faísca nostálgica na gente, revivendo um dos sons mais sensuais dos anos 90 com batidas de Brooklyn. Três músicas que abrem o programa com leveza, groove e sofisticação emocional.

Entre as faixas 4 e 6, o Jazzmasters entra em seu território mais quente e o destaque absoluto aqui é “That Girl”, de Ernie & The Family McKone com Laura Jackson. É uma obra-prima moderna do boogie britânico: baixo preciso, sintetizadores na medida e vocais que parecem nos transportar para o melhor dos 80. Ernie, veterano da cena londrina, recria com perfeição o espírito do soul funk dessa década, mas com frescor e uma energia que é pura celebração. Antes dele, Leven Kali em “Sleepwalking” mostra porque é considerado o novo príncipe do R&B contemporâneo — jazz espiritual, batidas quentes e um vocal que passeia entre o groove e o devaneio. Depois, edbl ( Ed Black ) e Albert Gold, em “Better Now”, encerram esse bloco com soul-pop elegante, daqueles que poderiam tocar em qualquer rádio entre Londres e Los Angeles.

Na sequência, o programa mergulha num groove mais orgânico, cheio de história e balanço. As garotas do Monstress e Jade Kenji misturam funk, neo-soul e spoken word com atitude feminina e groove australiano. Chain Reaction – “Search For Tomorrow” e Odyssey – “Battened Ships” trazem o espírito da soul americana setentista, com metais e harmonias que ainda soam vivos e atemporais. São canções que conectam o ontem ao hoje, lembrando que o soul, mais do que um gênero, é uma linguagem universal sensual, espiritual e sempre em movimento.

O último bloco é pura catarse. Misumani e First Touch acendem a pista com boogie eletrônico elegante, preparando o terreno para o remix explosivo de Adina Howard – “Freak Like Me” pelos holandeses da Fouk — um reencontro entre o empoderamento feminino dos anos 90 e o house funk europeu de 2025. Mas o grand finale pertence ao mestre Dave Lee e sua AC Soul Symphony, em “Windy City Theme”, remixada com brilho e reverência por Opolopo. O produtor sueco transforma a faixa em um turbilhão groove e sintetizadores boogie-funk em uma homenagem vibrante a Chicago, berço do House e do Urban Soul. É música feita com o toque de quem entende que o som pode ser ao mesmo tempo sofisticado e profundamente humano.
No fim, a gente provoca uma conversa entre gerações e geografias: de Los Angeles a Londres, de Chicago a Sydney, de 1972 a 2025. Um programa que não apenas toca Soul, ele respira Soul.
Ainda não ouviu? Ouça o Jazzmasters aqui.
Monstress é um quarteto feminino vibrante e incrivelmente confiante que traz algo diferente e único para a cena musical. Liderada por Sarah Homeh, sua voz sensual, acompanhada por uma seção rítmica pulsante e um saxofone sedutor, vai te fazer vibrar na cadeira ou te jogar na pista de dança.
Sua música é uma mistura singular de R&B, jazz, funk, neo soul e spoken word. Elas citam como influências: Esperanza Spalding, Robert Glasper, H.E.R., Erykah Badu, Meshell Ndegeocell e muitas outras.
Confira o vídeo da música que separamos para esta edição: