O Jazzmasters desta semana foi dar um passeio no tempo, buscando doze pérolas que pavimentam nossa jornada, destacando suas histórias, sonoridades e importância no grande livro jazzmasteriano com soul, disco e jazz fusion.

Earth, Wind & Fire abre o programa com o frescor de ‘Sunshine’, extraída de Gratitude (1975). Maurice White – que veio do jazz e nesta fase já era mestre do groove – alia um riff de metais radiante a camadas de vocais em falsete, num casamento perfeito entre R&B e elementos de jazz-funk. Já Creative Source nos apresenta a original ‘You Can’t Hide Love’, clássico de 1973, imortalizado pelo quinteto de Los Angeles, trazendo um tom blaxpoitation com aura gospel leve, graças a acordes de Rhodes que servem como contra-pontos de cordas. Prova de como o soul da Costa Oeste incorporou sofisticação jazzística. E que dupla chega depois, José James & Lalah Hathaway com ‘Lovely Day’ no tributo Lean On Me a Bill Whiters. A abordagem é minimalista, uma lição de “menos é mais”, destacando como a interpretação – e não a teatralidade – é o DNA de qualquer grande balada soul.

Tracy Hamlin emerge com um retro-boogie que recria fielmente a euforia dos anos 80. Os sintetizadores cortantes e o slap bass dançante remetem às pistas de boate, mas a performance vocal, incrustada de melismas e sustenidos dramáticos, evidencia o pedigree jazzístico de sua passagem pelo Pieces of a Dream. L. Young ganha versão do duo Reel People em ‘I Love My Girl’, com balanço deep-house suave, percussões e samples de guitarra que dialogam com o vocal de Young. ‘Don’t Cover Up Your Feelings’ é um resgate de 1988 por Alfred Broomfield, cuja voz grave traz um tom confessional. A levada mid-tempo, pontuada por um sax tenor melancólico, remete ao soul dos anos 80.
No segundo set, Dave Lee encarna o espírito nu-funk londrino ao fundir percussão orgânica com metais e guitarras wah-wah. Angela Johnson assume o mic, modulando entre o sussurro e o poder vocal soul, enquanto os teclados flutuam no quente som do Hammond, a síntese perfeita do jazz-dance britânico. Full Flava vem com CeCe Peniston em ‘You Are The Universe’, cover de Brand New Heavies ganhando novo fôlego na performance virtuosa de Peniston. Se poder vocal dá o tom também neste set, não poderia faltar Melba Moore e sua herança gospel, convertendo o original de 1978 ‘Pick Me Up, I’ll Dance’ numa ode à pista. As batidas sampleadas, reconfiguradas por Dj Lawyer, realçam o groove com pitadas de scratching e subgraves eletrônicos, mas mantêm intacta a exuberância vocal que a tornou vencedora de Tony nos anos 60.

E partindo para o final Jarrod Lawson com seu tenor, cria uma base moderna sem apagar os solos de flugelhorn. É a ponte entre o jazz e soul espiritual de Donny Hathaway e o refinamento do R&B contemporâneo. Adika Pongo faz um feat com James D-Train Williams. A parceria resgata a euforia pós-disco com metais e percussão, e D-Train empresta a alma funk que pulsa desde os primórdios do street-dance. E para terminar uma homenagem à eterna Rita Lee. Fechamos com um toque brasileiro-cosmopolita: a “revisão” de Reflex conecta o suingue tropical de Rita na vibe dos Dobbie Brothers, aos sintetizadores latejantes do high-80s europeu. A cantora reinventou seu pop urbano com um refrão irresistível; aqui, a batida eletrônica marca um tom mais sensual sem destruir a leveza original da música.
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Homenagem a Bill Withers com Jose James e Lalah Hathaway: