O Jazzmasters apresenta aquela fórmula que está há 21 anos no ar e começa a edição 1251 com Joss Stone desenterrando um tesouro setentista de Sugar Billy e soprando alma jovem sobre ele com a bênção de uma banca de respeito: Betty Wright, The Roots e cia. Soul com pedigree e frescor — um verdadeiro banho de loja vintage. Na sequência, os Excitements com Kissia San mostram que Barcelona também tem suingue e discurso. “Grab the Power with My Hands” é soul de protesto, com DNA afro, sotaque catalão e produção dos Dap-Kings. Dá pra sentir o pulso de Curtis Mayfield no fundo da mix. Já os Humidors com Tori Roze vêm da Califórnia com a alma ensolarada e o groove bem colado no asfalto quente de Oakland. “Movin’ On” é aquele soul com aura de estúdio analógico, onde cada instrumento quer dizer algo — e diz.

Durand Jones & The Indications fazem o que poucos conseguem: amadurecer sem virar chato. “Been So Long” é tipo aquele reencontro com um amigo que você não vê há anos, e ainda assim, a conversa flui como se fosse ontem. É como ouvir “Be Thankful for What You Got”, de William DeVaughan e matar saudade. Tanika Charles, por sua vez, vem do Canadá com sotaque quente e suingue preciso. “Here When You’re Ready” é soul moderno com cara de vinil antigo. Produção e voz afiada, – uma pérola meio escondida. Aí vem o Band of Pockets com o som “in the pocket” — no tempo certo, no tom justo, com groove relaxado e bem costurado por Yona Marie. Tem a cara dos anos 70, mas com a cabeça no presente. E o coração? Lá em Minneapolis, na escola do Prince.

O segundo set vem com Liquid Spirits com jeitão de vinho raro: você precisa de tempo e atenção pra entender o sabor. Experimental, mas com propósito. “Twice as Nice” traz jazz, soul e uma inquietação criativa da dupla de produtores Wiboud Burkens (teclados) e Manuel Hugas (baixo). Os Brand New Heavies com N’Dea Davenport são acid jazz no auge, de quando as pistas se iluminavam sem precisar de estrobos — só com linha de baixo e charme. E o que dizer da descoberta do nosso programador Chico Aleixo? Brooklin Kohl é a revelação sensível da seleção. “Worth the Wait” é uma balada doce, introspectiva, sem exageros. Tem algo de Corinne Bailey Rae, mas com um toque millennial de vulnerabilidade digital.

Blasé vem com o DNA da metrópole: Nova York, Paris, Berlim, tudo junto e misturado. “It Feels So Good” é disco, é hip hop, é funk sintético e emocional. Um pequeno delírio bem produzido — pra ouvir dançando ou viajando. Theo Croker é o jazzista que flerta com o house e beija o Soul sem pudor. “High Vibrations” é sofisticado e dançante como um clube cool de Tóquio numa noite de verão. Croker é daqueles que não toca jazz, ele invoca. E pra fechar com chave de ouro digital, Girls of the Internet fazem jus ao nome: inclusivos, sensuais, modernos e com alma vintage. “You’ll Come Around” é House com coração e “beat” com abraço. Música pra dançar com esperança que muita coisa boa ainda está para ser lançada aqui no Jazzmasters.
No fim, o que temos aqui é um panorama do Soul moderno — que olha pro passado com respeito, mas anda pra frente com vontade. Um mosaico grooveado, plural, global e cheio de boas intenções. E nesse mundo tão ruidoso, poucas coisas valem mais do que música boa com propósito. Bravo!
Ainda não ouviu?? Ouça o Jazzmasters aqui.
Assista Theo Croker, Feat. Malaya & D’LEAU – high vibrations