De Amy A Sai Galaxy – Passeio Entre A Reverência E A Ousadia

Se a música é mesmo a arte do tempo, o Jazzmasters desta semana poderia muito bem ser definido como uma viagem entre dimensões das sonoridades negras, do Soul Music ao Afrodisco, passando pelo Jazz, o Funk e o Groove eletrônico contemporâneo. Um “gumbo” daqueles que Marvin Gaye temperaria com um sorriso de canto de boca e Prince teria gosto em provar.

Logo de cara, somos embalados por Zhané revisitando ‘Got to Give It Up’, um clássico de Marvin Gaye com direito a DNA dançante criado em plena era Disco. Uma abertura simbólica que já nos apresenta o fio condutor da curadoria “jazzmasteriana”: a reinterpretação reverente, mas viva, de uma tradição musical que pulsa nas pistas e nos fones com igual intensidade.

Foto: Will Sessions

A sequência com Zbonics, Will Sessions e 1000 Beasts revela uma arquitetura sonora bem pensada: ora calcada em groove vintage e alma retrô, ora alçando voos mais experimentais, digitais e multiculturais. A faixa do Zbonics é um exemplo dessa alquimia: tem aquele cheiro de garagem californiana com fita analógica rodando solta, mas entrega uma vibe emocional que caberia numa balada soul de Prince, facilmente.

Will Sessions traz aquele peso de Detroit com cheiro de vinil. Junto com o saudoso Amp Fiddler e as poderosas Dames Brown, o grupo parece mais interessado em reviver uma era do que simplesmente homenageá-la. ´What It Is´ é funk de verdade, com brilho e paixão.

Do lado de Cork, Irlanda, vem a leveza de 1000 Beasts e Zeenie Summers Sà.Rù.Mí, fundindo inglês e iorubá, afrobeat e indie soul. Uma prova de que o espírito da Motown não apenas sobrevive, mas evolui, ganha novos idiomas e novas batidas.

No meio da jornada, Amy Winehouse surge como ponto de inflexão. ‘You Know I’m No Good’ não é apenas um hit, é uma confissão musical crua. Amy será celebrada sempre como elo entre o passado e o presente.

Foto: Neal Francis

Full Crate com Kenyon Dixon, RE:UM, KC Roberts & The Live Revolution e Neal Francis nos levam do R&B moderno ao funk galáctico e ao soul com tempero de sintetizador. Há uma fluidez nesse bloco que impressiona: um groove costurado por teclados elétricos, metais e vocais que vão do sensual ao gospel. Em comum, a paixão por uma estética setentista e o desejo de atualizá-la com elegância.

Zan Abeyratne aparece como uma surpresa encantadora. Sua ‘No Secret’ tem cheiro de fita cassete esquecida no porta-luvas de um carro dos anos 80 (meu Fiat vivia cheio dessas fitas). É nostálgica, sim, mas com aquele “quê” pop sofisticado que só quem já dividiu palco com INXS e U2 pode ter.

E pra fechar com classe e gingado, Sai Galaxy e Millicent nos presenteiam com ‘You Are Not Alone’, um híbrido afrofuturista que faz jus ao nome do programa: jazz, sim, mas também house, lo-fi, afrobeat e disco.

No fim das contas, o Jazzmasters desta edição é menos uma linha do tempo e mais um mapa afetivo da música negra em suas múltiplas formas e encarnações. A curadoria do nosso Mestre Chico Aleixo, abraça com coragem essa arte de aprender novos sons de hoje, sem esquecer a tradição que pavimentou esse caminho. Uma edição para dançar, refletir e se emocionar.

Um brinde ao groove eterno.

Ainda não ouviu? Ouça o Jazzmasters aqui.

Assista KC Roberts & the Live Revolution, Feat. Dionne Wilson – ‘Of the Stars’, um dos destaques do Jazzmasters.

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